21/01/2011

O bom samaritamo e a ética da solidariedade
Por Rubem Menezes

Para falarmos da ética da solidariedade vamos nos apropriar da parábola do bom samaritano, relatada no Evangelho de Lucas (10.29-37). A parábola nos conta a história de um homem que, durante uma viagem, fora atacado por ladrões e cruelmente espancado, tendo sido deixado à mercê da sorte na estrada. Após a agressão o ferido fora visto por três pessoas, em diferentes momentos, que adotaram as seguintes posturas: os dois primeiros, notadamente religiosos, viram-no, mas o ignoram conscientemente. Provavelmente omitiram-se movidos por preconceitos religiosos, snobismo ou por puro egoismo. O fato é que não se sensibilizaram com o próximo e não dedicaram tempo para assisti-lo. Nesse caso seus valores religiosos não se converteram em ação solidária, tornando-se totalmente sem sentido o ser religioso.

O terceiro viajante, não se sabe se religioso ou não, sensibilizou-se com o estado da vítima, interrompeu seu percurso e o socorreu prontamente — ou seja, foi-lhe solidário. É certo que este homem, identificado apenas como sendo samaritano, estava em viagem para atender a compromissos. Ainda assim, ao deparar-se com a vítima, de pronto interrompeu sua jornada a fim de socorrer ao ferido.

Ao nos apropriarmos da parábola, fazendo uma releitura do texto, perguntamos: com que olhar vemos o outro (o próximo)? Que sentimento nasce em nosso coração quando olhamos o outro? Olhamos com desprezo e gesto de “não-estou-nem-aí”, ou olhamos com sentimento de dor e espírito solidário?




A parábola propõe pensar sobre a ética da solidariedade. Nossas ações carregam concepções de valor, conceitos de justo e injusto, bem e mal etc. Nossos valores mostram o que somos e norteiam nossos atos, assim como nossos atos e o que somos revelam nossos valores.

Na atitude dos dois primeiros viandantes temos o egoísmo como norteador de suas ações. Para eles o desconhecido ferido era apenas uma “coisa” e não seu próximo. O egoísmo leva o ser humano a “coisificar” o outro — o pedinte, o morador de rua, o usuário de drogas, a prostituta, o sem teto etc. É preferível ver essas pessoas como “coisas” que vê-las como semelhantes. “Coisificando-as” não é preciso ter sentimento por elas, nem demonstrar compaixão e/ou solidariedade. Pode-se apenas ser indiferentes (se é que é possível ser indiferente) e insensíveis, sem que isso traga culpa ou cause incômodo. O samaritano, ao contrário, revela uma das características mais sublimes do homem — a solidariedade. Ser solidário é se importar, amar, cuidar, valorar.

Ser cristão não é ignorar a dor do que sofre, deixar de se comprometer, deixar de ouvir o clamor do aflito. Ser cristão é, dentre outras coisas, ser solidário, ser ético. Todo ser humano tem a necessidade de saber que é amado. Por vezes o que o sofredor mais deseja é uma palavra de amor ou um simples gesto de humanidade. Tais atos fazem com que o sofredor se sinta humano, gente, alguém. Quando nos dignamos a ajudar o próximo, estamos prestando um serviço a Deus. O outro não é uma “coisa” é um ser humano que precisa de ajuda a fim de ter um pouco de alento e poder sentir-se alguém. Veja o exemplo do samaritano e, como disse Jesus, “vai e faz o mesmo”.

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