18/01/2011

Natureza em fúria! E agora?
Por Rubem Menezes
Todo ano no Brasil é assim: em janeiro chove “diluvianamente” e há incontáveis tragédias; em dezembro, retrospectiva das calamidades ocorridas em janeiro por conta do ímpeto e da fúria das águas.
Quase que revivendo o relato bíblico do Gênesis (7.12): “houve copiosa chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites”, janeiro, em grande parte do País, a população revive o drama vivido pelos contemporâneos do personagem bíblico Noé. Pois, têm que, diuturnamente, conviver com a tragédia dos alagamentos, dos desmoronamentos e das perdas de bens móveis e imóveis e, pior, do bem maior – a vida!
Famílias têm sido totalmente dizimadas. Sonhos perdidos e esperanças comprometidas. A alegria se converte em tristeza, o sorrido e pranto, o prazer em dor. O ontem se torna saudade, o hoje lamento e o amanhã, incerteza... O povo culpa o as administrações públicas pelo descaso e omissão. Os governos, por outro lado, responsabilizam a população por facilitar a tragédia, jogando lixo em córregos e bueiros.
Nessa hora não há anjos, nem demônios. Ou, todos são anjos ou demônios. Certo mesmo que há seres humanos que, com suas falhas e limitações, conservam sonhos, dor e frustrações.
Não se pode negar que uma parte do problema se deve ao fato de muitos dentre a população ainda não terem se apropriado de uma consciência de vida complexa. Isto é, a vida do homem (o humano) está irremediavelmente ligada à natureza. Nenhuma ação humana é sem consequência para a natureza. E nenhuma ação da natureza é sem consequência para o homem.
Uma lata de refrigerante, por exemplo, atirada ao chão pode parecer um ato isolado e sem maiores gravidades. Mas, quando imaginamos milhares de outras pessoas fazendo a mesma coisa, por pensarem do mesmo jeito, então, aquele gesto “inocente” se torna altamente devastador.
Na outra ponta da (i)responsabilidade social estão os governos que têm o dever político, ético e moral de possibilitar aos cidadãos condições, inda que mínimas, de vida digna e segura. Há que se garantir à população o direto do gozo da vida.
Considerando que as “comportas dos céus” se abrem todos os anos no mesmo período, o mínimo que o povo espera dos governantes e administradores públicos é que estes desenvolvam planos de metas e ações que sanem o problema que advém com as fortes chuvas.
Se não podemos impedir que a natureza manifeste a sua fúria, pois ela o fará inevitavelmente, ao menos podemos aprender a lidar com ela, a fim de não sermos destruídos.  

Um comentário:

  1. Mas o quê se vê constantemente é o descaso de ambas as partes nesse sentido. Lamentável.

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