02/04/2011

Uma reflexão sobre a necessidade da apologia da fé
Por Rubem Menezes


“­— O cristianismo é uma farsa! Sua fonte de autoridade, a Bíblia, é balela, é uma grande contradição!” Essas foram palavras usadas por uma pessoa revoltada com Deus e o mundo. Ela tentava estravasar seu mau-humor e desconten­tamento. Vale dizer que ela não foi nem é a única a pensar assim. Declarações como essas, não só a respeito do cristianismo, mas das religiões em geral, são expressadas por pessoas de todas as cama­das sociais e dos mais diferentes ní­veis intelectuais.

Situações assim devem desafiar os crentes (pessoas que professam uma fé) e não desanimá-los, como se esperassem que todas as pessoas concordassem com sua crença ou aceitassem seu objeto de fé.

No caso da fé cristã, o desafio está em o cristão apresentar uma refutação clara, honesta e verdadeira a cerca do que ele crê. Precisa responder aos que debocham da sua fé e do seu livro sagrado, a Bíblia, com conhecimento, inteligência, convicção, ou­sadia e sabedoria. O que esta­mos dizendo é que o crente precisa exer­ci­tar a apologética. Etimologicamente, apologia quer dizer um discurso para justi­ficar, defender ou louvar. No caso da fé cristã, a apologia consiste em um discurso de justificativa e/ou defesa dessa fé cristã.

O apóstolo Pedro, um dos baluartes do evangelho, fala da necessidade da apologia da fé, quando diz: "antes, santificai a Cristo, co­mo Senhor, em vossos corações, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós" (1 Carta de Pedro 3.15,16). Essa resposta a que o autor de refere é a apologia.

Não é sempre que as questões religiosas se expressam pela fé. Nalguns momentos são necessários argumentos que vão para além da fé, e que sejam apresentados com bases sólidas, conscientes e consistentes. Há momentos em que, até para quem pretende fomentar a sua crença, é imprescindível buscar conhecer racionalmente os fundamentos da sua fé, além de aceitá-la subjetivamente. É mister uma argumentação séria, sólida, fundamentada racionalmente e or­ga­­ni­zada logica­mente. Não há motivo para ter medo da racionalidade, nem tampouco se deve associá-la à descrença. O apóstolo Pedro parecia saber muito bem da necessidade e da importância de conhecer (ato racional) a sua própria fé — parece mesmo que sentiu isso na pele.

Não pense que estamos negando ou minimizando a fé. Esta é necessária para se aceitar a crença e experienciá-la. Mas, como a religião (qualquer que seja ela) é um fenômeno que se dá no tempo e no espaço e na história do homem, ela pode e deve ser compreendida dentro de uma certa racionalidade. Ou seja, ela pode e deve ser pesquisada, estudada, observada etc. Para os que crêem isso dará mais solidez à sua fé e arguemento para sua apologia. Para os que não crêem dará apenas conehecimento ou, simplesmente, informação.

O apóstolo Paulo, outro grande paladino do evangelho, foi um brilhante apologista. Dois dos momentos monumentais da sua atuação foram registrados por Lucas, no livro dos Atos dos Apóstolos: o prmeiro, quando Paulo faz um discurso apologético peran­te os filósofos gregos estóicos e epicureus (Livros dos Atos 17.16ss.); o segundo, quando fez apologia da sua fé, com muita veemência, perante Agripa II, rei da Judéia (Livro dos Atos 26.1ss.).

Você é um crente? (não importa a crença). Então, você é responsável por sua crença. Portanto, estude-a! Conhecça-a! Faça perguntas, investigue, busque respostas! Continue prestando culto à divindade. Isso é expressão da fé. Mas, não esqueça de que o culto a Deus é um ato racional (Carta aos Romanos 12.1). Ou seja, cultua-se com a razão. O dicio­narista Aurélio Buarque de Holanda, diz que “razão é a faculdade que tem o ser humano de avaliar, julgar, ponderar ideias universais e de estabelecer relações lógicas, de conhe­cer, compreender e raciocinar”.

Em síntese, continue crente. Mas, seja um crente racional, preparado para compreender e comunicar a sua crença com inteligência, conhecimento e sabedoria. Creia para experienciar o sagrado. Mas, estude para conhecer sua religião e para defender com garbo a sua crença.